O encontro com o Crucificado

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Conforme o Evangelista João, Jesus deixou clara a realidade da Cruz quando disse: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,14-15). Jesus está se referindo ao acontecimento das serpentes enquanto o povo hebreu peregrinava pelo deserto (Nm 21,4-9). João volta ao assunto no final de seu trabalho evangelizador quando está para ser assassinado: “É agora o julgamento deste mundo, agora, o príncipe deste mundo será lançado a baixo; e quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,31-32).

O apóstolo Paulo. “Agora encontro minha alegria nos sofrimentos que suporto por vós; e o que falta às tribulações de Cristo, eu o completo em minha carne em favor do seu corpo que é a Igreja; dela tornei-me ministro em virtude do encargo que Deus me confiou a vosso respeito: completar o anúncio da Palavra de Deus, o mistério mantido escondido no decurso dos tempos e que Deus manifestou agora aos seus santos” (Cl 1,24-26).
“Graças à vossa oração e a assistência do Espírito de Jesus Cristo, segundo a minha viva esperança, minha certeza é total, Cristo será exaltado em meu corpo, seja por minha vida, seja por minha morte. Pois para mim viver e Cristo, e morrer é lucro. Mas se viver neste mundo me permite um trabalho fecundo, não sei o que escolher” (cf. Fl 1,19-22).

Indivíduos desejosos de se aparecer na esfera da carne, eis o que são os que vos impõem a circuncisão. O seu único objetivo é não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo, pois aqueles mesmos que se fazem circuncidar não observam a lei; eles querem, entretanto, que sejais circuncidados para terem, na vossa carne, um título de glória. Eu, por mim, nunca vou querer outro título de glória que não seja a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo; por ela o mundo está crucificado para mim, como eu para o mundo. Pois o que importa não é a circuncisão, nem a incircuncisão, mas a nova criação. Que ninguém me atormente, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus (cf. Gl 6,12-18). Ver ainda 1 Cor 1,18-25.

Francisco de Assis. Segundo frei Tomas de Celano (2 Cel 10-11), Francisco recebe a missão dos lábios do crucificado pintado na cruz que estava na igrejinha de São Damião. A missão é esta: “Vai e restaura minha casa que, como vês, está toda destruída” (10,5). Desde então diz Celano, “grava-se na sua santa alma a compaixão do Crucificado e, como se pode julgar piedosamente, no coração dele são impressos mais profundamente os estigmas da venerável paixão, embora ainda não na carne” (10,8). “Pouco depois, o amor do coração se manifestou por meio das chagas do corpo. Desde então, não consegue, por esta razão, conter o pranto, chora em alta voz a paixão de Cristo, como que sempre colocado diante de seus olhos. Enche de gemidos os caminhos, não admite qualquer consolação, ao recordar-se das chagas de Cristo” (11,5-7). “Mas não se esquece de ter cuidado daquela imagem santa, nem deixa por alguma negligência a ordem dela. Imediatamente dá dinheiro a um sacerdote para comprar lâmpada e óleo para que a sagrada imagem nem por um momento seja privada da devida hora e da luz. Em seguida, sem preguiça, corre para realizar as demais coisas, trabalhando sem cessar para restaurar aquela igreja. Embora lhe tenha sido dirigida a palavra divina sobre aquela Igreja que Cristo adquiriu com seu próprio sangue, não quis de repente atingir o máximo, para passar paulatinamente da carne ao espírito” (11,9-12).

É claro que agora, depois de tudo acontecido, Celano pode dizer que Francisco já sabia desde o começo, que se tratava da Igreja-pessoas, mas a verdade na história revela-se diferente. Francisco faz um discernimento ativo e, à medida que se dá para realizar a missão recebida, vai descobrindo a profundidade dela e nela se inserindo, até trazer em seu corpo as marcas do Crucificado. A ruína da Igreja que Francisco precisa reparar vai custar-lhe a ruína de seu próprio corpo, como custou para Jesus, a ruína do seu. Eis o absurdo desafio da vocação franciscana. Para viver a plenitude é necessário nada reservar, nada reter, entregar-se solidariamente e totalmente. “Quem quiser salvar sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á” (Mt 16,25).

Fr. Moacir Casagrande OFMcap

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