Tempo de Advento e Eucaristia

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Advento é a preparação para o grande Evento. A presença na carne humana, na condição humana, do Filho de Deus, pelo qual todas as coisas foram feitas. A Palavra criadora de Deus se faz criatura vivente na realidade criatural em condições de resgatar, redimir e plenificar a criação.

Completou-se o tempo, o Criador se faz criatura para levar as criaturas à plenitude.

A plenitude. Caminhando pela revelação, encontramos o apóstolo Paulo dizendo: “Chegada a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai! De modo que já não és escravo, mas filho. E se és Filho és também herdeiro, graças a Deus” (Gl 4,4-7). Assim ele afirma que, com a chegada de Jesus, acabou o tempo da espera, implantou-se definitivamente a realização do Reino de Deus. Vivemos, portanto, um novo tempo. Precisamos acentuar esta realidade: menos espera, mais engajamento, mais ação. Crer na presença humana de Jesus no mundo é torná-lo presente em nossa prática vivencial. Como? Vivendo como Jesus viveu. Os evangelistas nos fornecem farta orientação, mas a vivência é uma obra construída em parceria com as demais pessoas no mundo onde vivemos e atuamos.

O tempo de Advento que abre o novo Ano Litúrgico é didaticamente colocado para refrescar a memória da humanidade a respeito da “salvação”, em processo de realização, e chamar a todos para o engajamento nessa realidade, pois, para acontecer a salvação é necessário o engajamento de cada um e de todos ao mesmo tempo. Uns se engajam e permanecem, outros entram e saem, outros ainda ficam sempre duvidando, outros, por fim, querem um reino ao seu modo, só para si, o que caracteriza auto exclusão. O tempo da plenitude está completo em Jesus, mas segue sendo atuado em cada geração até o seu desfecho. Agora é a nossa vez. É nossa obrigação sermos melhores daqueles que vieram antes de nós e oferecer à futura geração um mundo mais habitado pela graça que Deus, por misericórdia nos concedeu.

Faça-se. O sim pronunciado e atuado por Maria permanece pelos séculos dos séculos. “O anjo disse: Não temas, Maria! Encontras-te graça junto de Deus. Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo” (Lc 1,30-32). No sim, dado por Maria, a humanidade é resgatada. As portas da felicidade são abertas para sempre. A humanidade tem jeito, o mundo tem solução. A vida no Espírito Criador prevalece. Advento, tempo de preparar, de reavivar e dizer com Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim conforme a tua palavra” (Lc 1,38). Maria proclama em si a Palavra Criadora de Deus: “Faça-se”. A Palavra toma corpo, se faz carne no seio dela. Se a palavra de ordem sobre nossos comandados se torna fato-realidade, porque a Palavra do Senhor sobre nós não haverá de se tornar?

A Palavra criadora. Conforme o evangelista João “No princípio existia a Palavra (Logos, Verbo) e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus… Tudo foi feito por meio da Palavra e somente por ela” (Jo 1,1.3). Temos então a Palavra criadora. Basta verificar Gênesis 1,3.6.9.11.14.20.24.26. Ao chegar o tempo estabelecido “a Palavra se fez carne, e habitou entre nós, e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). Graça e verdade é o que prevalece no mundo de ora em diante sempre atuante em quem se engaja na causa de Jesus revelada no Evangelho por ele anunciado: “Completou-se o tempo, o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

O Antigo Testamento se caracteriza pela revelação de Deus na Palavra. Agora, no Novo Testamento, Deus se revela na pessoa de seu Filho Jesus. A Palavra se faz pessoa.

Nasceu-vos HOJE. “Eis que vos anuncio uma grande alegria que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura” (Lc 2,10-12). Os pastores foram e encontraram tudo conforme o anjo anunciou. A notícia deles encheu Maria e Jose de admiração. Deus nos surpreende todos os dias. O tempo da salvação se chama HOJE. O lugar da salvação é AQUI. Ela está acontecendo AGORA. “Representar a natividade de Jesus equivale a anunciar o Mistério da encarnação do Filho de Deus”. “Deus se fez menino para nos dizer quão próximo está de cada ser humano, independente de sua condição” (Papa Francisco em Admirabile Signum)

Contemplar o despojamento. São Francisco de Assis criou, no Natal de 1223, em Greccio – Itália, o presépio, para visualizar o evento do nascimento de Jesus e para aproximá-lo, o mais possível, da realidade de extrema pobreza em que ele nasceu. O total despojamento do Filho de Deus. “Estando Ele na forma de Deus não usou seu direito de ser tratado como um deus, mas se despojou tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido como tal” (Fl 2,6-7). São Francisco diz textualmente: “Quero celebrar a memória daquele menino que nasceu em Belém e ver, de algum modo, com os olhos corporais, os apuros e as necessidades da infância dele, como foi reclinado na manjedoura, e como, estando presentes o boi e o burro, foi colocado sobre o feno” (1 Cl. 84,8).

Faz-se carne todos os dias. Sobre a Eucaristia São Francisco também exorta: “Ó filhos dos homens, até quando estareis com o coração duro. Por que não reconheceis a verdade e não credes no Filho de Deus. Eis que diariamente ele se humilha, como quando veio do trono real ao útero da Virgem; diariamente ele vem a nós em aparência humilde; diariamente ele desce do seio do Pai sobre o altar nas mãos do sacerdote. E assim como eles com a visão do seu corpo só viram a carne dele, mas contemplando-o com os olhos espirituais criam que ele é Deus, do mesmo modo também nós, vendo o pão e o vinho com os olhos do corpo vejamos e creiamos firmemente que é vivo e verdadeiro o seu santíssimo corpo e sangue” (Ad I,14-21).

E ainda: “A vontade do Pai foi esta: que seu Filho bendito e glorioso, que nos deu e que nasceu por nós, se oferecesse a si mesmo, através de seu próprio sangue, como sacrifício e hóstia no altar da cruz; não para si mesmo, por quem foram feitas todas as coisas, mas pelos nossos pecados, deixando-nos o exemplo para que sigamos suas pegadas” (2 Carta aos Fiéis 11-13).

 

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