A teologia eucarística em São João

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Fr. Moacir Casagrande OFMcap.

“Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá para sempre. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,51).

A dimensão oblativa da vida de Jesus. Um corpo que se despedaça. Eucaristia, partilha que nasce de um corpo agradecido, realizado, satisfeito, transbordante; que se deixa interpelar por corpos carentes, necessitados, suplicantes.

O evangelista João começa nos fazendo saber que “No começo de tudo estava a Palavra. Tudo o que existe foi feito por meio da Palavra (Jo 1,2-3). Depois ele nos faz saber também que “a Palavra se fez carne e veio habitar no meio de nós e nós vimos a sua glória” (Jo 1,14). João Batista em sua primeira intervenção apresenta Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Repete em seguida indicando-o para seus discípulos (Jo 1,36). A Palavra se fez carne e deu sua carne no pão abençoado e partido. “O pão que eu darei é minha carne par a vida do mundo” (Jo 6,51).

A passagem do “PARTIR O PÃO” para “SER O PÃO PARTIDO” (Jo 6,1-26). Do pão de cevada para o sentido de vida doada. Do pão de cada um para a circularidade do alimento partilhado, em pequenos grupos, sem templo, na relava, com gratuidade.

A centralidade do pão. Segundo Mateus (Mt 6,11) o pão de cada dia está no centro dos sete pedidos da oração que Jesus ensinou. “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Segundo Lucas (11,3) o pão de cada dia está no centro dos cinco pedidos da mesma oração. Todos os evangelistas estão de acordo sobre “o sinal do pão”, que chamamos de multiplicação, aliás, é o único sinal-milagre trazido por todos e repetido em Marcos (8,1-10) e Mateus (15,32-39). Mas só João toma esse fato para fazer uma catequese pascal.

Em Êxodo 16,1-12, pão é símbolo de todo o alimento para a sobrevivência. Moisés e seus liderados sobreviveram com ele os quarenta anos de travessia do deserto, desde a saída do Egito até a entrada na Terra Prometida. Em 1Rs 19,6-8, o profeta Elias só pode ressurgir de sua extenuada condição mediante o misterioso pão oferecido no deserto. “Levanta-te e come” (1 Rs 19,1-8). Mas durante a tentação do deserto Jesus reage à proposta do diabo a respeito do pão e diz: “Não só de pão vive o homem” (Mt 4,4 e Lc 4,4). Enquanto em Lucas 24,30-31 se diz que os olhos dos discípulos se abrem “ao partir do pão”. Este pão é muito mais que farinha amassada, é vida doada em abundância.

O novo espaço pascal. Segundo João, na primeira páscoa Jesus, como todo o bom judeus, cumpridor da lei, vai ao templo de Jerusalém, mas fica contrariado com tudo o que vê por lá (cf. Jo 2,13-25). Apresenta então, aos que pedem justificativa para sua ação, o seu corpo como novo templo: “Destruam esse templo e em três dias eu o levantarei” (Jo 2,19). O evangelista acrescenta: “O templo que do qual Jesus falava era o seu corpo” (Jo 2,21). Na segunda páscoa, porém, Jesus permanece na Galiléia. Celebra aí, às margens do mar, acompanhado por uma multidão (cf. Jo 6,1-15). Talvez João queira apresentar uma alternativa cristã para rememorar as tradições da Páscoa e do Êxodo. Podemos constatar aqui o seu esquema teológico que consiste em substituir as instituições judaicas por Jesus. Longe do templo e das autoridades judaicas, seguido por uma multidão, sinaliza para uma páscoa, centrada na pessoa dele, aberta a um processo de partilha, comunhão e retorno de vida abundante para todos (cf. Jo 6,11-14).

O congraçamento de Israel, durante a festa da páscoa, no templo, é substituído pelo congraçamento em torno de Jesus, no lugar onde ele estiver, com a multidão que o segue. Enquanto a páscoa no templo favorece os controladores dele, a páscoa em torno de Jesus favorece e engrandece a todos. A centralidade do pão também é substituída pela centralidade Dele. “Jesus tomou o pão, agradeceu a Deus, o partiu e distribuiu a eles, dizendo: Isto é o meu corpo-eu, é dado por vocês. Façam isso em memória de mim” (Lc 22,19). “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre” (Jo 6,51).

A iniciativa de Jesus. Diferente de todos os outros evangelistas, onde a preocupação com a alimentação da multidão nasce dos discípulos , João diz que vem de Jesus. Ele se antecipa e questiona os discípulos. Enquanto a multidão se aproxima, Jesus já sabe o que ela busca e sabe também que resposta precisa dar. Na resposta de Filipe, representante dos discípulos: “Duzentos denários de pão não bastariam para que cada um comesse um pedacinho” (Jo 6,7), aparece a distância existente entre a novidade de Jesus e a prática da tradição. O pão da salvação é doação.

Na páscoa do Êxodo comem às pressas, em pé, pães sem fermento, cordeiro assado e ervas amargas, cingidos, para viajar imediatamente (Ex 12,8-11.39). Nesta páscoa comem organizados em grupos, sentados na relva, tranquilamente, sem pressa, pães de cevada, o tanto que necessitam para ficarem saciados e ainda sobra muito, para o futuro.

Este pão não se estraga, é incorruptível, permanece pelos séculos. Parece que em Jesus se cumpre a profecia de Isaías (25,6-8), banquete para todos, sem exclusão, celebrado sobre a montanha, com carnes gordas e suculentas, vinhos finos e depurados.

A busca de resposta. Conforme os evangelistas sinóticos, os discípulos levaram pão para si. Querem dispensar a multidão para preservar o seu pão com a justificativa de que não é suficiente para tanta gente. O que querem mesmo é que cada um se vire para resolver o próprio problema. Eles só colocam o pão em comum por ordem expressa de Jesus “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6,36; Mt 14,16; Lc 9,13).

Mas segundo João, enquanto Filipe justifica a impossibilidade de solução, André procura uma alternativa e se depara com cinco pães de cevada e dois peixinhos, nas mãos de um menino. Filipe ocupa seu tempo e sua inteligência em buscar justificativas para o impasse, além de desculpas para não ser responsabilizado. André encara a realidade e se ocupa na busca de solução. Encontra um sinal. Há pão, é de cevada, não de trigo, é pouco, mas o menino, pessoa que está começando a vida agora, coloca à disposição.

Jesus é o primeiro responsável, mas quer partilhar com os seus, aliás, quer apresentar o evangelho de Deus. Isso exige a participação de todos. Ele toma os pães e dá graças. Nós, geralmente, só damos graças quando temos em abundância porque, a nosso ver, é a abundância que significa graça. Jesus dá graças por cinco pães e dois peixinhos diante de cinco mil pessoas famintas. É a gratidão sobre o pouco que faz o muito. É pouco, mas é dom de Deus e, dom pode se multiplicar, pois a graça partilhada tem alcance ilimitado.

Depois da ação de graças o pão se multiplica, tem para todos, o quanto necessitam e ainda sobra abundantemente. Quanto mais se dá, mais se tem. Doze cestos de pedaços significam um para cada tribo de Israel. A fome desse momento foi saciada, mas a vida continua. Novos momentos virão e novas gerações surgirão e também comerão.

O desencontro. As multidões seguem Jesus por aquilo que ele pode dar. Jesus ensina como repartir, isto é, como as pessoas precisam ser umas com as outras e ser umas para as outras. Enquanto as pessoas buscam alguém que se responsabilize por elas, Jesus ensina a responsabilidade mútua, a corresponsabilidade. A abundância de alimento é graça de Deus, mas é igualmente empenho de cada pessoa e de todas juntas, umas em favor das outras. A multidão que vibra num primeiro momento, fica desapontada num segundo momento e segue em busca de alguém que resolva seus problemas. É censurada por Jesus, “Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes os sinais, mas porque comestes dos pães e vos saciastes” (Jo 6,26).

Os discípulos que participam do processo também ficam sem entender e resolvem voltar para casa. Essa volta está carregada de símbolos: é noite, está escuro, o vento forte sopra contra eles, o mar está agitado e eles navegando num barco pequeno. Chegam com dificuldade até o meio. Mas quando Jesus os alcança, imediatamente vencem a outra metade. Sem Jesus o processo é pesado e demorado, com ele, toma novas proporções, torna-se leve e rápido.

Quando as coisas ficam confusas e a segurança acaba, a tendência é recuar, mas confiar em Jesus é avançar. Aí está o desafio, pois o acontecimento, a festa, o rito, por si só não basta. Há um antes e um depois. As pessoas precisam acolher, entender e dar-se, para que as coisas não acabem no fim do ato, mas permaneçam vivas e vivificantes na pessoa que celebra.

Novo rumo. A páscoa do pão sinaliza para a novidade do Reino inaugurado por Jesus. Em primeiro lugar mostra que a vontade de Deus é abundância de vida e isso se obtém a partir do pão necessário de cada dia. Em segundo lugar evidencia que a garantia da abundância está na partilha e isso acontece com a participação de todos. Em terceiro lugar ressalta que a partilha acontece quando há corresponsabilidade efetivamente solidária, que leva a colocar em comum, tudo o que cada um tem e tudo o que cada um é ou possa vier a ser, mas não termina aí. A páscoa do pão sinaliza para a páscoa da vida que se faz pão e do pão que permanece sempre.

Eu sou o Pão da vida. A segunda parte da narrativa joanina estabelece o confronto entre as autoridades religiosas e Jesus, esclarecendo a novidade de Jesus. A dificuldade acontece por uma leitura literalista sobre o sinal/milagre do “maná” (Ex 16,1-36). Lá, segundo eles, recebiam do céu todas as manhãs. Aqui esperam que aconteça do mesmo modo. Jesus esclarece que aquilo era apenas um sinal que aponta para a realidade está nele e é por ele revelada. “Em verdade eu vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu, mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6,32-33). A prova da origem divina tem duas vertentes: descer do céu e dar vida ao mundo. Mas não se trata de vida físico-biológica como aquela concedida pelo maná, trata-se de vida para além da morte. Tal dom só é concedido pelo Filho, Jesus. Ele não cessa de afirmar: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6,35.48.51). Não basta a graça de Deus. Ela precisa do engajamento das pessoas. O engajamento só é possível numa adesão de fé. Para que a vida eterna oferecida e doada por Jesus tenha efeito em nós, é necessária que a acolhamos, com ativo engajamento na causa dele. Isto é, à medida em que acolhemos Jesus, pão vivo e vivificante, nos fazemos como ele, pão vivo e vivificante para os demais. O maná era pão de manutenção. Quem comia renovava a vida físico-biológica. Jesus é pão de transformação, quem o come se torna eterno, comprovando por atitudes, o prevalecimento do espírito.

O ponto mais difícil. “Em verdade, em verdade, eu vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53). A reação de inconformidade dos seguidores é imediata: “Esta palavra é dura! Quem pode escutá-la? ” (Jo 6,60). Jesus corre o risco de ficar sozinho, mas não pode ser diferente, a Palavra se fez carne e precisa ser assimilada conjuntamente com ela (cf. Jo 6,63). Ou as pessoas o aderem desse modo ou não haverá vida eterna. Comer é assimilar, assumir, deixar-se tomar por Cristo, “cristificar-se”. Beber é inebriar-se dele, ser ativado por Ele, viver Dele e Nele. Assim como bem nos expressa o apóstolo Paulo: “Já não sou que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). É por essa razão que nos aproximamos da mesa eucarística: para comer a carne e beber o sangue de Cristo e tornar-nos, por esse mistério, Cristo também. Por esse ato damos adeus ao individualismo, ao egoísmo e à privacidade, pois nos tornamos coletivos, comprovando isso por nossa partilha e participação oferecida e aberta a todos. O desafio é o mesmo, para com os de fora e para com os de dentro: “Então Jesus disse aos Doze: Vocês também querem ir embora?” (Jo 6,67). A resposta de Pedro nos mantém no caminho: “Senhor, aquém iremos? Tu tens palavras de vida eterna e nos cremos e reconhecemos que és o Santo de Deus” (Jo 6,68-69). A Jesus, porém, ninguém engana “Não vos escolhi, eu, aos Doze? No entanto, um de vós é diabo! ” (Jo 6,70). Que é ele? É todo aquele que diz sim a Cristo, mas não pratica o que Ele ordena. Apresenta-se como servidor, mas, na verdade é aproveitador, fazendo só o que agrada a si mesmo. A adesão sem uma ação correspondente é traição.

A páscoa-passagem de SER SERVIDO para SER SERVIDOR (Jo 13,1-20). Alguns exegetas dizem que este texto possui muita afinidade com os textos que expressam a despedida de importantes personagens da história bíblica e da história antiga em geral.

Jesus sente que sua hora se aproxima, reúne os seus e manifesta-lhes o último desejo com um gesto que marca para sempre a história da humanidade. Acompanhemos os gestos e entendamos o recado de cada gesto.

Enquanto comem. “Durante a ceia”. O texto nos diz que Jesus realizou o “lava-pés” durante a ceia. Todas as refeições tinham o “lava-mãos”. Algumas especiais tinham o “lava-pés” no início, antes da ceia, como sinal de acolhida e de hospitalidade (Lc 7,44). Jesus realiza seu gesto enquanto a refeição está acontecendo. O que isso significa? Pode significar que ele está colocando uma relação muito estreita entre o comer e o servir, melhor dizendo, entre a eucaristia e o serviço solidário. Até Jesus, os convidados para a refeição são servidos e saem satisfeitos. A partir de Jesus, os convidados para a refeição, servem-se uns aos outros e saem da refeição para servir outros. O dom recebido é partilhado entre os seus, mas isso não basta, ele precisa ser colocado à disposição de todos, a começar pelos mais carentes. O dom é, ao mesmo tempo, graça e missão. O poder que ele traz é para conduzir à vida em abundância.

Ele se levanta. Jesus “levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela” (Jo 13,4). Ficar de pé é posição que expressa prontidão para servir. Ele mesmo se despoja. Abrir mão do manto é uma iniciativa livre e soberana, que nasce de seu próprio interior. Ensina, assim, que na dinâmica do Reino de Deus, para servir é necessário se despojar, por isso, tira (depõe) o manto.

O Senhor assume, em tudo, a condição de servo, para servir. Troca o manto pela toalha-avental, improvisado. Este parece ser o distintivo fundamental, divisor de águas entre a religião antes e depois de Jesus Cristo. As autoridades religiosas vestiam-se do distintivo de autoridade-poder para servir o povo. Jesus despe-se dele para servir. Ele serve verdadeiramente como servo. Os outros serviam como senhores. E nós como servimos? Esta inversão continua dando muito o que falar até hoje. A dinâmica cristã exige testemunho de solidariedade concreta, sempre aberto a atingir a realidade, o mais amplamente possível.

Começa a lavar. “Põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e enxugá-los com a toalha em que estava cingido” (Jo 13,5). O senhor pode até lavar os pés de outro, mas é o servo que lhe prepara a bacia com água. Ele só se presta ao gesto pontual. Os preparativos ficam por conta de outros. Jesus assume os preparativos, não faz meio trabalho. Enxuga os pés que acaba de lavar, com a toalha de que está cingido, isto é, liga o seu corpo todo ao serviço que presta. O gesto que faz expressa o que ele é. Ele é inteiramente servo. Todo o seu ser está a serviço. Ele se dá naquilo que faz, e faz o que propõe aos discípulos. Não é uma amostra, é uma dinâmica que precisa ser atuada.

Lava os pés dos discípulos. Inclina-se aos pés deles, até o chão. Isto pode significar reverência, mas significa com certeza submissão. Ser discípulo é estar submisso ao mestre. Normalmente é o discípulo que serve o mestre e sente-se honrado em fazê-lo. Na Boa Notícia cristã acontece o inverso. O mestre lava os pés dos discípulos, essa é a dinâmica que revela a novidade do Reino de Deus. Lavar os pés dos discípulos é cuidar dos que servem os servos. Grande e estranho desafio, para servir o Senhor dos senhores é necessário inclinar-se ao servo dos servos.

Os pés. Porque Jesus lavou os pés? Há um simbolismo nisso. Os pés são os servos do corpo, são nossos servos, nos aguentam o dia todo e nos conduzem por onde queremos ir. A sociedade do tempo de Jesus estava organizada de maneira que o servo servisse o senhor. Mas Jesus propõe outra dinâmica. A maior honra, o sentido do Reino não vai por aí, mas exige que se sirvam os servos. Foi isso que levou Pedro a reagir. A mudança é estonteante, sem precedentes, completamente fora da lógica até então vivida. Como pode? Todo mundo quer ser senhor, ou pelo menos, servo do senhor, mas agora vem Jesus e propõe que sejamos servos dos servos. Isso é muito para Pedro e seus companheiros. Isso é muito também para nós.

Pedro também conhecia o “lava-pés” como purificação, mas Jesus tem outra intenção e dá outro sentido. Então Pedro fica perdido. O “lava-pés” que Jesus realiza nada tem a ver com purificação, mas com participação, com adesão à missão, isto é, a construção do Reino de Deus.

Retoma o manto. “Depois que lhes lavou os pés, retomou o manto, voltou à mesa e lhes disse: compreendeis o que vos fiz? ” (Jo 13, 12). Jesus volta ao lugar em que estava antes, mas volta diferente. Ele repõe o manto, mas não depõe a toalha-avental. Ele assume e visibiliza uma nova realidade que caracteriza o novo modo de ser, que é próprio dos cristãos. O poder serviço tem como primeiro símbolo o avental. O avental é o selo de autenticidade que orienta, credita e dignifica o poder feito serviço. O poder cristão nasce do serviço, se sustenta nele, só persevera servindo.

O exemplo. Jesus pede que a dinâmica iniciada por ele tenha continuidade, seja progressiva e circular, partindo do meio para a periferia em forma de círculo possa atingir a todos. O novo modo de exercer o poder é praticado primeiro entre todos os que participam da ceia, mas deve ser exercido sem limite de tempo ou de espaço, isto é, atingir a toda criatura em todos os tempos até a plenitude. Festejar não é só comer juntos e jogar conversa fora, é também servir, comprometer-se com as necessidades uns dos outros. Através da ceia Jesus se dá. É missão dos discípulos continuarem o seu dom servindo-se uns aos outros. “Se compreenderdes isso e o praticardes, sereis felizes” (Jo 13,17).

A páscoa de Jesus. Um serviço onde o servidor se dá ao bem comum e se faz bem comum. Nesta páscoa Jesus se submete à transformação de si mesmo. Todos os evangelistas, especialmente os sinóticos, fazem questão de insistir sobre o aprendizado pascal que discípulos e discípulas precisam acolher. “É necessário que o Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, seja morto e, três dias depois ressuscite”. Esta declaração, repetida três vezes, pelos três evangelistas, sinaliza para o foco da mudança que é a entrega da própria vida sem discriminação, em favor do povo, pela causa de Deus, inclusive para os inimigos. Assim, Jesus não apenas celebra uma páscoa, mas pascoaliza a própria existência e convida os seus seguidores a fazer o mesmo.

Jesus observa, por um lado as práticas cultuais de seu povo, mas por outro, é fiel à linha dos profetas que exigem o primado do espírito sobre o rito. Ele resume e centraliza os mandamentos no cumprimento do amor a Deus e ao próximo e coloca como exigências fundamentais do verdadeiro culto, o amor e o perdão ao irmão. Introduz um novo culto, praticado em “espírito e verdade” (Jo 4,24). Compadece-se de nossas fraquezas e as experimenta. É provado em tudo, mas não peca (Hb 4,15). Não oferece sacrifícios todos os dias como faziam os sacerdotes até então, mas oferece a si mesmo, todo inteiro, sem reservas, uma única vez e chega à perfeição (Hb 7,27). Ele não oficia em templo algum, mas na tenda, não feita por mãos humanas, que é seu próprio corpo (Hb 9,1.11). Em vez do sangue de touros e bodes, oferece o próprio sangue (Hb 9,12). Nele se cumpre o que diz o Salmo “Não quisestes sacrifício e oblação, mas deste-me um corpo” (Sl 40,7). É nesse corpo que vem fazer acontecer à vontade daquele que lhe deu. “Eis que vim para fazer a tua vontade” (Hb 10, 9).

 

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