Ele é o último da lista, mas certamente não está no último lugar no coração de Jorge Mario Bergoglio. Ao anunciar os novos cardeais que receberão o barrete roxo no Consistório do próximo dia 30 de setembro, o Papa Francisco pronunciou ao final da lista o nome de um frade franciscano idoso que, desde que se aposentou em 2007, vive no confessionário com isolamento acústico do Santuário de Nossa Senhora de Pompeia em Buenos Aires: trata-se do frei Luis Pascual Dri, capuchinho, nascido em Federación, província de Entre Ríos, Argentina, em 17 de abril de 1927, em uma família onde todos os filhos, exceto um, se consagraram a Deus na vida religiosa.
Francisco falou dele várias vezes. Pela primeira vez em 6 de março de 2014, encontrando os párocos de Roma. Havia repetido o exemplo alguns meses mais tarde, em 11 de maio de 2014, na homilia da Missa de ordenações sacerdotais. Ele voltou a citá-lo no livro-entrevista “O nome de Deus é misericórdia”, depois o repropôs em fevereiro de 2016 durante a homilia da Missa em São Pedro com os frades capuchinhos e novamente no recente encontro com os padres de Roma em São João de Latrão e com os confessores do Jubileu. Quando fala da confissão e da acolhida dos penitentes no confessionário, o pensamento do Papa Bergoglio sempre se volta para ele.
«Lembro-me de outro grande confessor, mais novo do que eu, um padre capuchinho, que exercia o seu ministério em Buenos Aires. Uma vez me procurou para conversar. Ele me disse: ‘Queria te pedir ajuda; tenho sempre tantas pessoas na fila do confessionário, pessoas de todos os tipos, humildes e menos humildes, mas também muitos padres… Eu perdoo muito e às vezes sinto o escrúpulo de ter perdoado demais’. Conversamos sobre a misericórdia, e eu lhe perguntei o que fazia quando sentia aquele escrúpulo. Ele me respondeu assim: ‘Vou até a nossa capelinha, diante do Sacrário, e digo a Jesus: ‘Senhor, perdoa-me, porque perdoei demais. Mas foi o Senhor que me deu o mau exemplo’.’ Isto eu jamais esquecerei. Quando um sacerdote vive assim a misericórdia a si mesmo, pode concedê-la aos outros».
Há sete anos fomos procurá-lo no Santuário dedicado à Virgem de Pompeia, em Buenos Aires. Havia muito poucas pessoas, era uma tarde bastante abafada. Apenas um confessionário aberto, dentro um frade com hábito capuchinho à espera, entre os painéis brancos de isolamento acústico semelhantes aos de um antigo estúdio de rádio. Era ele. Ele nos contou por que o Papa o citou tantas vezes. «Eu, no final das contas, sou, não digo escrupuloso, mas digamos um pouco preocupado nas confissões. Quando ele era cardeal aqui em Buenos Aires, eu confiava muito nele, fui conversar com ele e uma vez contei tudo isso a ele. Ele me disse: “Perdoe, perdoe, é preciso perdoar”. E eu: sim, perdoo, mas depois fico com uma certa inquietação e por isso depois vou a Jesus e digo-lhe que foi Ele quem me ensinou, que me deu o mau exemplo, porque Ele perdoou tudo, nunca rejeitou ninguém. Percebe-se que essas palavras tocaram Bergoglio, ficaram impressas nele. Ele sabe que eu confesso muito, por muitas horas, de manhã e à noite. E mais de uma vez ele aconselhou alguns sacerdotes, por algum problema, a virem falar comigo, eu os ouvi e agora somos grandes amigos, com alguns deles que vêm com frequência, conversamos, e eles se encontram muito bem espiritualmente, pastoralmente. Tenho de agradecer muito ao Papa esta confiança que depositou em mim, porque não a mereço. Não sou uma pessoa, um sacerdote, um frade que estudou, não tenho nenhum doutorado, não tenho nada. Mas a vida ensinou-me muito, a vida marcou-me, e depois nasci muito pobre, parece-me que devo ter sempre uma palavra de misericórdia, de ajuda, de proximidade para quem aqui chega. Ninguém deve sair pensando não ter sido compreendido, ou desprezado ou rejeitado”.
O frade que passa todas as manhãs e todas as tardes no confessionário, continuando “até que se apaguem as velas”, não tinha nenhum conselho particular a dar aos seus “colegas” confessores: “O que diz o Papa. Não posso dizer outra coisa, porque sinto isso, porque eu vivo isso. Misericórdia, compreensão, colocar toda a vida em escuta, para entender, para conseguir se colocar na pele do outro, para entender o que está acontecendo. Não devemos ser, a começar por mim mesmo, funcionários que realizam alguma coisa e basta: ‘Sim, dei-lhe a absolvição’. ‘Sim, não, e acaba aí’. Muito pelo contrário. Penso que devemos ter uma certa proximidade, uma especial amabilidade, porque às vezes há pessoas que não sabem muito bem o que é a confissão. ‘Não te assuste, não te preocupe’. A confissão… a única coisa que precisa é o desejo de ser melhor, nada mais. Não deves pensar com quem, nem quantas vezes, nem isso nem aquilo. Todas essas coisas não servem. Parece-me que afastam a pessoa. E tenho que fazer com que as pessoas se aproximem de Deus, de Jesus”.
Já aos penitentes, o frade que agora será revestido com a púrpura, sempre deu este conselho: “Não tenham medo. Eu sempre mostro esta imagem, esta foto que representa o abraço do Pai ao Filho Pródigo. Porque eles me perguntam: ‘Mas Deus vai me perdoar?’. Mas Deus te abraça, Deus te quer bem, Deus te ama, Deus caminha contigo, Deus veio para perdoar, não para castigar, veio para estar conosco, deixou o céu para estar conosco. Então, como podemos ter medo! Quase me parece um absurdo, uma falta de conhecimento, uma ideia errada sobre nosso Deus Pai”.
Sua figura recorda a do padre Leopoldo Mandic, que tinha a mesma atitude com as pessoas no confessionário. “Sim, sim, eu o conheço muito bem; li sobre sua vida e aprendi muito com ele – nos confidenciou padre Dri –. Aprendi também com padre Pio: estive com ele em 1960. E tudo isso me ensinou muito. Estive com o padre Pio, confessei-me com ele, estive no mesmo convento em 1960. São Leopoldo e São Pio ensinaram-me tanto, tantas coisas bonitas sobre a misericórdia, o amor, a paz, a tranquilidade, a proximidade. Embora padre Pio fosse assim forte, assim enérgico, quando tinha que ouvir e perdoar, era Jesus”.